Guia Completo de Filosofia para o Vestibular: Resumo Essencial

Capítulo 1: Filosofia Antiga

Origens da Filosofia

A filosofia ocidental nasceu na Grécia Antiga, no século VI a.C., com o uso da razão como instrumento para obter conhecimento (razão, em grego, é logos). A transição do pensamento mítico para o racional foi gradual e influenciada pela centralização no humano. Os primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos, buscavam explicar a origem e o funcionamento do mundo exterior. Eles são chamados de filósofos da natureza ou da physis.

Os pré-socráticos tinham como principal preocupação entender como do caos (desordem) foi possível a criação do cosmos (mundo) – passagem da cosmogonia (explicação do mundo por meio dos mitos) para a cosmologia (busca por uma explicação racional do mundo). Eles acreditavam que um princípio (em grego, arché) de todas as coisas seria a razão explicativa para a ocorrência dessa transformação. Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo grego e pertenceu ao grupo dos filósofos jônicos, assim como Anaximandro, Anaxímenes, Anaxágoras e Heráclito. Outro pré-socrático de destaque foi Pitágoras, pertencente à escola itálica. Devemos também destacar os representantes da escola eleática, como Xenófanes, Parmênides e Zenão, além dos integrantes da escola atomista, Leucipo e Demócrito.

Heráclito e Parmênides, dedicaram-se a responder a questão de como um princípio físico podia dar origem a diversas coisas. A explicação para essa pergunta estaria na kinesis, isto é, no “movimento” ou “transformação”, conhecido como devir. Heráclito buscava entender a multiplicidade das formas reais e afirmava que o movimento é algo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias. Parmênides, por sua vez, afirmava que seria impossível acreditar que o movimento fosse uma constante, pois uma coisa ou um ser não podem “ser” e “não-ser” ao mesmo tempo.

Sócrates (470-399 a.C.)

Sócrates, um cidadão de Atenas, viveu durante o apogeu e a decadência da democracia ateniense. Ele rivalizou com os sofistas, como Górgias e Protágoras, que ensinavam técnicas de retórica e persuasão mediante pagamento. Para Sócrates, a Filosofia era uma reflexão profunda de conceitos tidos como inquestionáveis: coragem, justiça, sabedoria e outros. Ele combatia as opiniões originárias do senso comum para se obter o verdadeiro conhecimento.

O método socrático consistia em estabelecer diálogos críticos, divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica. A ironia (do grego eironeia) significava “perguntar fingindo ignorar”, e a maiêutica (do grego maieutiké) era a “arte do parto”. Sócrates não enunciava teorias, mas fazia perguntas e analisava respostas sucessivamente, mostrando a seu interlocutor as contradições daquilo que estava falando. Dessa maneira, procurava mostrar o quanto “pensamos” que sabemos, quando, na verdade, sabemos muito pouco. Sua única afirmação era: “só sei que nada sei”.

Sócrates também inaugurou as discussões sobre a moral, defendendo que ética significa ação racional. Para ele, a virtude é a própria razão, e a finalidade humana é a prática do bem, que se realiza mediante o conhecimento racional. A ética socrática era fundamentada na busca do bem e da virtude através da razão.

Sendo um crítico da sociedade ateniense, Sócrates foi acusado de corromper a juventude e de introduzir novos deuses, sendo condenado à morte. Ele aceitou sua sentença com dignidade, tomando cicuta, um veneno, conforme registrado por Platão em “Apologia de Sócrates”.

Platão (427-347 a.C.)

Platão, discípulo de Sócrates, é conhecido por sua teoria das ideias, onde propõe a existência de dois mundos: o sensível e o inteligível. O mundo sensível é aquele referente aos sentidos, enquanto o mundo das ideias se localiza na razão humana. Platão afirmava ser necessário ao filósofo desvendar a fundo o mundo das ideias, pois é esse que comporta a verdade.

Em sua teoria, Platão elaborou o Mito da Caverna, que narra a situação de homens acorrentados no fundo de uma caverna, de costas para a entrada, só podendo ver sombras projetadas na parede. Essas sombras correspondem ao mundo sensível, enquanto os seres e as coisas fora da caverna correspondem ao mundo das ideias. Para Platão, a educação seria a fonte principal para formar filósofos, retirando-os do “mundo das sombras” e levando-os à “luz do conhecimento”.

Platão também tinha uma concepção política onde a cidade ideal deveria ser governada por reis-filósofos, aqueles que conseguem abandonar o mundo sensível e abraçar o mundo inteligível. Ele escreveu diversos diálogos, onde expõe suas ideias através de personagens, sendo “A República” uma de suas obras mais influentes. Nela, Platão discute a justiça, a cidade ideal e a teoria das formas.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Aristóteles, aluno de Platão, discordava da teoria do conhecimento do mestre. Para ele, a alma não está separada do corpo, mas é um componente dele. O conhecimento é percebido pelos sentidos e elaborado pela razão. Ele elaborou as noções de ato e potência: o ato seria o estado atual do ser, enquanto a potência seria aquilo em que o ser se transforma.

Aristóteles também desenvolveu a lógica, estabelecendo as primeiras regras para o estudo, e afirmava que a política é um desdobramento natural da ética, sendo a felicidade coletiva o objetivo da política. Para ele, a coletividade é superior ao indivíduo, e o Estado é a instituição por meio da qual se efetua a satisfação de todas as necessidades humanas.

Ele escreveu muitas obras influentes, como “Ética a Nicômaco”, “Política”, “Metafísica” e “Poética”. Em “Ética a Nicômaco”, Aristóteles discute a virtude e a ética, afirmando que a felicidade é o objetivo final da vida humana e que é alcançada através da prática da virtude. Em “Política”, ele analisa as várias formas de governo e defende a polis como a forma ideal de organização social.

De Aristóteles à Idade Média

Com a expansão de Alexandre Magno, floresceu a cultura helenística, síntese da cultura grega com a oriental. No aspecto filosófico, destacam-se várias correntes como o cinismo de Diógenes, o ceticismo de Pirro, o epicurismo de Epicuro e o estoicismo de Zenão. Essas correntes têm em comum a influência dos ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles, e a busca da felicidade individual em um contexto político paralisado.

Durante o domínio romano, filósofos latinos como Cícero, Sêneca e Marco Aurélio, influenciados pelo estoicismo, contribuíram para a formação da cultura ocidental com a sistematização do Direito. A filosofia helenística e romana focava na ética e na busca da felicidade, adaptando e desenvolvendo as ideias dos filósofos gregos clássicos.


Capítulo 2: Filosofia Medieval

Patrística

Com o crescimento do cristianismo dentro do Império Romano, surgiu a filosofia patrística, com a missão de conciliar fé e razão. Santo Agostinho foi o maior expoente dessa filosofia. Ele transformou a razão em uma forma de demonstração da necessidade da fé, afirmando que o conhecimento da verdade só pode vir de Deus.

A filosofia patrística predominou na Igreja Católica durante toda a Alta Idade Média, estabelecendo bases para a teologia e a filosofia cristã. Agostinho elaborou conceitos fundamentais, como a relação entre a cidade terrena e a cidade divina, discutidos em sua obra “A Cidade de Deus”. Ele também escreveu “Confissões”, uma autobiografia espiritual que narra sua conversão ao cristianismo.

Agostinho argumentava que a fé é necessária para a verdadeira compreensão, e que a razão deve ser utilizada para entender e explicar os ensinamentos divinos. Ele influenciou profundamente o pensamento cristão, e suas ideias sobre a predestinação e a graça divina foram debatidas por teólogos durante séculos.

Escolástica

Na Baixa Idade Média, a filosofia escolástica, representada por São Tomás de Aquino, buscou provar a existência de Deus através de argumentos racionais e a síntese entre fé e razão. Tomás de Aquino utilizou o pensamento de Aristóteles para elaborar sua argumentação, desenvolvendo as “cinco vias” para provar a existência de Deus.

A escolástica influenciou profundamente o pensamento medieval, estabelecendo uma relação entre filosofia e teologia que perdurou por séculos. Aquino escreveu a “Suma Teológica”, uma obra monumental que sistematiza a teologia cristã e aborda questões de filosofia, ética e metafísica.

Tomás de Aquino argumentava que a razão e a fé são complementares e que a verdade revelada por Deus não pode contradizer a verdade descoberta pela razão. Ele desenvolveu uma sínt

ese entre a filosofia aristotélica e a doutrina cristã, que se tornou a base da teologia escolástica.

A querela dos universais

A polêmica dos universais examinava as relações conceituais entre termos que designam múltiplas individualidades e essas individualidades em si. Três concepções se destacam: o realismo, que vê os conceitos como realidades objetivas; o nominalismo, que os vê como simples palavras sem conteúdo real; e o realismo moderado, que combina elementos das duas anteriores.

O realismo foi defendido por filósofos como Guilherme de Champeaux, que acreditava que os universais existem independentemente das coisas individuais. O nominalismo, defendido por filósofos como Roscelino de Compiègne, argumentava que os universais são apenas nomes que damos às coisas individuais. O realismo moderado, defendido por Pedro Abelardo, propunha uma posição intermediária, onde os universais existem na mente como conceitos, mas têm uma base na realidade.

Essa polêmica teve implicações profundas na filosofia medieval, influenciando debates sobre a natureza do conhecimento, a relação entre linguagem e realidade, e a natureza da existência.


Capítulo 3: Filosofia Moderna

René Descartes

Descartes introduziu a dúvida metódica como caminho para se alcançar o verdadeiro conhecimento. Sua famosa frase “Penso, logo existo” (cogito, ergo sum) destaca a importância da razão. Ele separou a “alma” do “corpo”, afirmando que o conhecimento obtido pela razão é mais seguro do que aquele obtido pelos sentidos.

Descartes desenvolveu a matemática e a geometria analítica, influenciando profundamente a ciência moderna. Sua obra “Meditações Metafísicas” é uma das mais importantes da filosofia, onde ele busca estabelecer fundamentos seguros para o conhecimento.

Ele propôs a existência de ideias claras e distintas, que são inatas e fornecem a base para o conhecimento verdadeiro. Descartes também elaborou o dualismo cartesiano, que separa a mente (res cogitans) do corpo (res extensa). Sua filosofia influenciou muitos pensadores subsequentes, como Leibniz e Spinoza, e estabeleceu as bases do racionalismo moderno.

David Hume

Hume, expoente do empirismo, acreditava que as ideias são reflexos das impressões sensoriais e questionou a validade da relação “causa e efeito” proposta pelos racionalistas. Para ele, a crença se desenvolve a partir do hábito de aceitar certas “verdades” sem comprovação racional.

Em sua obra “Investigações sobre o Entendimento Humano”, Hume argumenta que todas as ideias são derivadas de experiências sensoriais. Ele rejeita a noção de ideias inatas e afirma que o conhecimento é limitado às impressões e ideias derivadas da experiência.

Hume também desenvolveu uma teoria sobre a moralidade, argumentando que os sentimentos e as emoções são a base da ética. Ele influenciou profundamente a filosofia moderna, especialmente o empirismo britânico, e suas ideias sobre causalidade e indução foram debatidas por filósofos como Kant.

Immanuel Kant e o criticismo

Kant buscou superar a dicotomia entre racionalistas e empiristas, propondo que o conhecimento verdadeiro é a síntese entre a forma universal inata da razão e o conteúdo particular fornecido pela experiência. Ele afirmava que não somos capazes de conhecer inteiramente os objetos reais, pois nosso conhecimento é limitado pelas noções de espaço e tempo inerentes à nossa razão.

Em sua obra “Crítica da Razão Pura”, Kant argumenta que a razão humana tem limites e que só podemos conhecer os fenômenos, não as coisas em si (noumena). Ele propôs uma revolução copernicana na filosofia, colocando o sujeito no centro do conhecimento.

Kant também desenvolveu uma teoria ética baseada no imperativo categórico, que afirma que devemos agir de acordo com máximas que possamos desejar que se tornem leis universais. Sua filosofia influenciou profundamente a metafísica, a epistemologia e a ética, estabelecendo as bases do idealismo alemão.

Francis Bacon e Galileu Galilei

Bacon defendia o método experimental e a observação rigorosa para eliminar preconceitos, enquanto Galileu propunha a matemática como linguagem do mundo e defendia a teoria heliocêntrica. Ambos foram fundamentais para o desenvolvimento da ciência moderna.

Bacon, em sua obra “Novum Organum”, criticou os “ídolos” que obscurecem o entendimento humano e propôs um método indutivo para a ciência. Ele argumentava que a observação e a experimentação sistemática são essenciais para o progresso do conhecimento científico.

Galileu, por sua vez, fez importantes descobertas astronômicas utilizando o telescópio, confirmando a teoria heliocêntrica de Copérnico. Em sua obra “Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo”, ele defendeu o heliocentrismo contra a visão geocêntrica tradicional. Galileu também contribuiu para a física, formulando leis do movimento e da inércia que prepararam o caminho para a mecânica de Newton.

Nicolau Maquiavel

Maquiavel separou a política da moral e da religião, defendendo que o poder político deve ser justificado por suas próprias razões. Ele destacou a importância da virtú (força e determinação) e da fortuna (sorte).

Em sua obra mais famosa, “O Príncipe”, Maquiavel oferece conselhos pragmáticos para os governantes sobre como adquirir e manter o poder. Ele argumenta que o sucesso político depende da capacidade de adaptar-se às circunstâncias e de usar a força quando necessário.

Maquiavel é frequentemente associado ao realismo político, pois rejeitava as idealizações utópicas e concentrava-se na política como ela é. Ele influenciou profundamente o pensamento político moderno, e suas ideias continuam a ser debatidas por filósofos e cientistas políticos.

Thomas Hobbes

Hobbes, em sua teoria do contrato social, afirmava que os seres humanos precisam abrir mão de suas liberdades em favor de um governo que garanta a paz e a segurança. Ele via o estado de natureza como uma condição de guerra permanente, onde “o homem é o lobo do homem”.

Em sua obra “Leviatã”, Hobbes argumenta que a única forma de escapar do estado de natureza é por meio de um contrato social, onde os indivíduos concordam em submeter-se a um soberano absoluto. Ele defendia a necessidade de um governo forte e centralizado para manter a ordem e prevenir o caos.

Hobbes influenciou profundamente o pensamento político moderno, especialmente a teoria do contrato social e a justificação do governo autoritário. Suas ideias sobre a natureza humana e a necessidade de um governo forte continuam a ser debatidas por filósofos e teóricos políticos.

John Locke

Locke defendia que, no estado de natureza, os seres humanos são racionais e livres, e que a propriedade privada é um direito natural decorrente do trabalho. Ele via o estado natural como uma condição de paz e igualdade, onde a razão é a lei maior.

Em sua obra “Segundo Tratado sobre o Governo”, Locke argumenta que o governo deve ser baseado no consentimento dos governados e que a principal função do governo é proteger os direitos naturais à vida, liberdade e propriedade. Ele defendia a separação de poderes e a limitação do governo como formas de proteger a liberdade individual.

Locke também desenvolveu uma teoria do conhecimento em sua obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, onde argumenta que todas as ideias são derivadas da experiência. Ele influenciou profundamente a filosofia política liberal e a teoria do conhecimento empirista, e suas ideias foram fundamentais para o desenvolvimento da democracia moderna.

Jean-Jacques Rousseau

Rousseau acreditava que o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade e a propriedade privada o corrompem. Ele defendia a formação de um corpo político baseado na vontade geral, onde cada indivíduo abre mão de sua individualidade em favor do grupo social, sem perder sua liberdade e igualdade.

Em sua obra “O Contrato Social”, Rousseau argumenta que a verdadeira liberdade só pode ser alcançada quando os indivíduos se submetem à vontade geral, que representa o interesse comum de todos os cidadãos. Ele criticava a desigualdade social e defendia a necessidade de um contrato social que estabelecesse uma sociedade justa e igualitária.

Rousseau também escreveu “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, onde critica a propriedade privada como a fonte da desigualdade social. Suas ideias influenciaram profundamente o pensamento político moderno, especialmente a teoria democrática e o movimento socialista.


Capítulo 4: Filosofia Contemporânea

Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) desenvolveu uma filosofia baseada na dialética, onde toda tese contém uma antítese, que é superada por uma síntese. Ele acreditava que a história é um processo racional de desenvolvimento do Espírito Absoluto.

Em sua obra “Fenomenologia do Espírito”, Hegel descreve o desenvolvimento da consciência humana desde a percepção sensível até o conhecimento absoluto. Ele argumenta que a realidade é um processo dinâmico de mudança e que a história humana é a manifestação do Espírito Absoluto em desenvolvimento.

Hegel influenciou profundamente o pensamento filosófico e político, e suas ideias foram desenvolvidas por filósofos como Marx, Kierkegaard e Nietzsche. Sua filosofia da história e sua teoria dialética continuam a ser estudadas e debatidas.

Karl Marx

Marx criou o materialismo histórico dialético, afirmando que a realidade é um processo

histórico permanente determinado pelas condições materiais de existência e a luta de classes. Ele via a ideologia como reflexo das relações materiais e a filosofia como ação transformadora.

Em sua obra “O Capital”, Marx analisa o modo de produção capitalista e as relações de exploração entre a classe dominante (burguesia) e a classe dominada (proletariado). Ele argumenta que a história é movida pela luta de classes e que o capitalismo inevitavelmente levará à sua própria superação através da revolução proletária.

Marx também escreveu “Manifesto Comunista” com Friedrich Engels, onde expõe suas ideias sobre a revolução proletária e a necessidade de abolir a propriedade privada dos meios de produção. Suas ideias influenciaram profundamente o movimento socialista e comunista, e sua crítica ao capitalismo continua a ser relevante.

Friedrich Nietzsche

Nietzsche criticou a moral e a razão ocidentais, propondo a afirmação de um novo homem além do bem e do mal, que vive pela vontade de potência. Ele via a civilização ocidental como decadente, marcada por valores que negam a vida.

Em sua obra “Assim Falou Zaratustra”, Nietzsche expõe suas ideias sobre o super-homem (Übermensch), que supera os valores tradicionais e afirma a vida com todas as suas contradições. Ele também desenvolveu a teoria do eterno retorno, que afirma que todos os eventos se repetem eternamente.

Nietzsche criticava a moral cristã como uma moral de escravos, que nega a vontade de poder e a afirmação da vida. Ele influenciou profundamente a filosofia existencialista e pós-moderna, e suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas.

Século XX

Fenomenologia

Edmund Husserl (1859-1938) fundou a fenomenologia, que propõe a investigação da experiência humana e a relação com o mundo. Ele rejeitava tanto o empirismo quanto o racionalismo tradicionais e propunha um retorno às coisas mesmas.

Em sua obra “Ideias para uma Fenomenologia Pura e uma Filosofia Fenomenológica”, Husserl argumenta que a consciência é intencional e que devemos estudar os fenômenos como eles se apresentam à consciência. Ele desenvolveu o método fenomenológico, que envolve a suspensão de julgamentos sobre a existência das coisas e a análise descritiva das experiências conscientes.

A fenomenologia influenciou muitos filósofos subsequentes, como Martin Heidegger, Maurice Merleau-Ponty e Jean-Paul Sartre. Ela continua a ser uma abordagem importante na filosofia contemporânea.

Jean-Paul Sartre

Sartre defendeu o existencialismo, onde a existência precede a essência, e destacou a liberdade como uma condição inerente ao ser humano. Ele argumentava que os seres humanos são responsáveis por criar seus próprios valores e dar sentido às suas vidas.

Em sua obra “O Ser e o Nada”, Sartre analisa a natureza da existência humana, afirmando que estamos “condenados à liberdade” e que a angústia é uma condição inevitável da existência humana. Ele também desenvolveu a teoria da má-fé, onde as pessoas tentam escapar da responsabilidade de sua liberdade.

Sartre foi um ativista político e defendeu a liberdade e a responsabilidade individual. Ele influenciou profundamente o pensamento existencialista e a filosofia do século XX.

Filosofia da ciência: Popper e Kuhn

Karl Popper (1902-1994) criou o princípio da falseabilidade para distinguir as teorias científicas das não científicas. Ele argumentava que uma teoria deve ser testável e sujeita a refutação.

Em sua obra “A Lógica da Pesquisa Científica”, Popper critica o indutivismo e propõe que a ciência progride através de conjecturas e refutações. Ele defende o método hipotético-dedutivo, onde as hipóteses científicas devem ser testadas por meio de experimentos e observações.

Thomas Kuhn (1922-1996), por sua vez, argumentava que a ciência progride através de revoluções paradigmáticas. Em sua obra “A Estrutura das Revoluções Científicas”, Kuhn afirma que a ciência normal é baseada em paradigmas, que são derrubados por crises e substituídos por novos paradigmas.

Kuhn critica a visão linear do progresso científico e destaca a importância dos fatores históricos e sociais na mudança científica. Suas ideias influenciaram a filosofia da ciência e a sociologia do conhecimento.

Jürgen Habermas

Habermas (1929) desenvolveu a teoria da ação comunicativa, propondo que a racionalidade comunicativa é a base para a democracia deliberativa. Ele argumenta que o entendimento mútuo e o diálogo são essenciais para a formação de uma sociedade justa.

Em sua obra “Teoria da Ação Comunicativa”, Habermas analisa a relação entre o mundo do sistema e o mundo da vida, propondo uma reconstituição da esfera pública baseada na ética do discurso. Ele defende que a comunicação livre de coerção é essencial para a legitimidade democrática.

Habermas influenciou profundamente a filosofia política e social, e suas ideias sobre democracia deliberativa e racionalidade comunicativa continuam a ser debatidas. Ele também contribuiu para a teoria crítica e a sociologia do conhecimento.